Encontramos, nas Sagradas Escrituras, inúmeras referências a operações financeiras. Compreendê-las, na medida do possível, poderá, além de satisfazer nossa curiosidade, ser útil para a correta interpretação de muitas passagens bíblicas, possibilitando o aprendizado de importantes princípios para a administração monetária. Este não é um estudo exaustivo do assunto, mas apenas um resumo.
O dinheiro surgiu por causa do comércio e esta é a sua finalidade. As primeiras transações comerciais consistiam na simples troca de mercadorias (escambo). Por exemplo, alguém trazia um cavalo ao mercado e o trocava por duas ovelhas. De vez em quando, esse tipo de operação encontrava dificuldades. Se houvesse apenas uma ovelha, o dono do cavalo não consideraria justa a negociação e não poderia dividir o animal ao meio. Assim, surgiram as mercadorias intermediárias para complemento do valor ou substituição integral. Todos os demais produtos seriam cotados em relação a certas quantidades destes. Pedras de sal foram usadas desta forma. Daí veio a palavra salário. Depois, as cabeças de gado tiveram a mesma função. Mais tarde, pedaços de ouro e prata tornaram-se meios de pagamento, medidos e avaliados conforme o peso.
No ano 89 d.C., o chinês Tsoi-Lun inventou o papel moeda, mas sua utilização no comércio iniciou-se apenas no ano 812 d.C., por força de lei. Então, se alguém trazia seu cavalo para vender na feira, voltava para casa (pasmem) apenas com um pedaço de papel. Estamos tão acostumados a isso, que nem observamos quanto é estranha essa troca. Entretanto, o governo garantia que o mesmo papel seria aceito para se obter outra mercadoria qualquer. O povo era obrigado a acreditar. Assim nasceu o crédito. Depois, isto se tornaria bastante natural e as cédulas circulariam sem dificuldade. Então, o dinheiro, que antes era mercadoria palpável, ouro, prata, foi sendo simplificado e diminuído.
OPERAÇÕES FINANCEIRAS NOS TEMPOS BÍBLICOS
A primeira referência ao dinheiro na bíblia ocorre na história de Abraão (Gn.17.12), que foi também o primeiro personagem identificado como rico (Gn.13.2). Sabendo que o patriarca viveu por volta do ano 2000 a.C., concluímos, sem dificuldade, que o seu dinheiro consistia em objetos de prata e ouro, os quais possuía em abundância. O pagamento ocorria mediante o peso de certa quantidade desses metais apresentados pelo comprador (Gn.23.16). Desse tipo é, portanto, o dinheiro mencionado na bíblia desde o tempo dos patriarcas, passando por José do Egito, Moisés, os Juízes, os Reis, até o exílio babilônico. O surgimento das moedas cunhadas, semelhantes às que usamos hoje, ocorre em época próxima ao esse cativeiro. Na bíblia, encontramos citação das mesmas durante o Império seguinte, o Persa (539 a.C – 331 a.C). As moedas do rei Dario foram chamadas dáricos e são mencionadas em Esdras 2.69. (Para melhor entendimento, vale lembrar que, se os livros da bíblia estivessem em ordem cronológica, Esdras estaria junto de Malaquias, no final do Antigo Testamento). Daí em diante, até o Apocalipse, o dinheiro envolve ouro, prata e moedas. Estas poderiam ser feitas também de cobre, ferro ou da mistura de metais. Algumas vezes, eram feitas de algum metal barato e banhadas em ouro.
Embora o Apocalipse tenha sido escrito um pouco depois da invenção do papel moeda, este não chegou a ser mencionado, pois ainda não se encontrava em circulação.
Exemplo de situação financeira muito difícil pode ser encontrado em Neemias 5.3-4, quando os pobres precisaram contrair empréstimos para pagar os impostos. Naquele episódio, os juros foram de 1% (Nee.5.11), mas não sabemos a periodicidade.
A ADMINISTRAÇÃO DE JOSÉ NO EGITO
A sabedoria de José nos ensina: Não gaste tudo. Poupe uma parte. Quando chegou a fome, José vendeu o mantimento para os egípcios e para outras nações (Gn.41.56). Assim, todo o dinheiro (ouro e prata) que existia no Egito, bem como o gado e a própria terra (Gn.47.15-26) passaram a ser propriedade do Faraó. Como continuasse morando nos mesmos lugares que agora pertenciam ao governo, o povo passou a pagar imposto sobre a terra, ou seja, 20% da produção agrícola após o período da fome.
A LEI DE MOISÉS
A lei de Moisés trouxe medidas avançadas para a época, condenando a usura e proibindo a cobrança de juros no empréstimo entre judeus (Ex.22.25). Moisés também instituiu imposto (IICr.24.6) e a manutenção dos sacerdotes e levitas por meio dos dízimos e ofertas (Num.18.21). Estes eram apresentados, geralmente, em forma de produtos. No deserto, os animais constituíam a oferta mais comum. Depois, em Canaã, os produtos agrícolas também eram oferecidos com frequência, principalmente os primeiros frutos da terra, chamados primícias (Êx.23.19). Entretanto, Moisés permitiu o resgate de produtos, ou seja, os israelitas poderiam entregar seu valor correspondente em dinheiro (ouro e prata), se assim desejassem, ficando com a mercadoria. Nesse caso, porém, deveriam acrescentar 20% sobre o valor original (Lv.27.13-31).
DEPOIS DE MOISÉS
DINHEIRO GREGO E ROMANO NO NOVO TESTAMENTO
Se não tivermos noção dos valores representados pelas moedas, perderemos muito do que o texto bíblico tem a nos transmitir.
Muitas pessoas sabem disso, mas pensam que o talento seja uma pequena moeda. Assim, ficam até compadecidas daquele servo que recebeu apenas um talento. Porém, o talento representa cerca de 20 kg. de prata. A palavra grega traduzida por “dinheiro” em Mt.25.27 é “argurion”, que significa prata. Um talento valia 6000 denários. Sabendo que 1 denário era o pagamento por 1 dia de trabalho na lavoura, um talento corresponderia a 20 anos de trabalho. Portanto, aquele servo não recebeu quantia insignificante. O que dizer então dos que receberam 2 e 5 talentos? Compreendendo o valor financeiro utilizado por Jesus na parábola, temos uma percepção mais clara do que ele queria ensinar em relação ao investimento que Deus faz nos seus servos. Depois de compreendermos isso, poderemos comparar o talento a tudo o que Deus nos deu.
Em outra parábola, Jesus falou a respeito de um homem que entregou suas minas aos seus servos (Lc.19.13). Não devemos pensar que ele estivesse falando de escavações para retirada de metais preciosos. De forma alguma. A “mina” era uma medida financeira também, correspondente a 100 denários.
O lepton era moeda judaica de pouquíssimo valor, a menor em circulação naquela época. Cada uma pesava menos de 1 grama de cobre e valia 20% de um denário. Duas delas foram ofertadas pela viúva no templo (Mc.12.42).
INSTRUÇÃO BÍBLICA OBJETIVA SOBRE FINANÇAS
Algumas vezes, extraímos princípios por dedução. Outras vezes, encontramos ensinamentos diretos sobre o assunto.
A bíblia nos ensina sobre o direito à propriedade, inclusive em relação ao dinheiro, pois não devemos cobiçar coisa alguma do próximo (Êx.20.17). Pobreza e riqueza são condições humanas secundárias na escala de valores bíblicos. Você pode ser rico ou pobre. Deus enriquece e empobrece a quem ele quer (ISm.2.7), mas o indivíduo pode tomar suas próprias providências num sentido ou em outro. Deus dá riqueza (Ec.5.19) e o diabo também pode fazê-lo (Mt.4.9).
A parábola dos talentos nos instrui a fazer negócios e investimentos (Mt.25.14-30).
A palavra do Senhor não proíbe que tomemos empréstimos, mas insiste que sejamos fiéis no pagamento das dívidas (Rm.13.8).
CUIDADO COM A AVAREZA
Muitos tomam Abraão como modelo, querendo ser ricos como ele, mas essas mesmas pessoas (sendo homens) não querem ser circuncidados como ele foi. A riqueza e a circuncisão de Abraão não são padrões para nós.
Muitos querem riqueza, mas fazer a oração de Agur ninguém quer:
“Duas coisas te peço; não mas negues, antes que morra: Alonga de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza: dá-me só o pão que me é necessário; para que eu de farto não te negue, e diga: Quem é o Senhor? ou, empobrecendo, não venha a furtar, e profane o nome de Deus.” (Pv.30.7-9).
De fato, a experiência de Agur é dele, assim como a riqueza de Abraão não é, necessariamente, nosso modelo. O que precisamos é saber o propósito específico de Deus para cada um de nós, e não querer copiar personagens bíblicos ao nosso bel-prazer.
Israel recebeu, no Antigo Testamento, promessas com ênfase material e o resultado disso pode ser visto ainda hoje naquela nação. A igreja, porém, tem uma ênfase espiritual. O Novo Testamento enfatiza as riquezas espirituais, tesouros no céu e não na terra (Mt.19.21; Mt.6.19-21). O reino de Israel é deste mundo, mas a igreja não.
O mundo é movido a dinheiro, mas o servo de Deus não pode ser. Precisamos ser movidos pela fé e pelo amor. O dinheiro torna-se então um instrumento apenas. Na parábola do semeador, Jesus disse que uma parte da semente caiu entre os espinhos, que cresceram e sufocaram-na (Mt.13.22). Este é o caso daqueles que foram seduzidos pelas riquezas. O resultado foi a perdição para suas almas, pois a semente da palavra de Deus não frutificou em suas vidas. De fato, Cristo ensinou que dificilmente entrará um rico no reino dos céus, pois a avareza é idolatria (Mt.19.23; Col.3.5). Nem todo rico é avarento, assim como nem todo político é corrupto, mas as evidências são desanimadoras.
“Porque nada trouxemos para este mundo, e nada podemos daqui levar; tendo, porém, alimento e vestuário, estejamos com isso contentes. Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição. Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão” (ITm.6.7-11).
Quando o valor do dinheiro é colocado acima do valor humano, o fruto dessa distorção será inveja, inimizade, contenda, ódio e morte. Para evitar o pagamento de uma pensão alimentícia, há quem recorra ao aborto e ao homicídio. O interesse financeiro é também um importante ingrediente na explosão das guerras.
Se você tem algum dinheiro, domine-o. Não seja dominado por ele. Usufrua com sabedoria. Não ajunte tesouros na terra (Mt.6.19-21). Este é o ensinamento do nosso Senhor Jesus Cristo.
COMBATA A AVAREZA COM A GENEROSIDADE.
Dinheiro é necessário e importante, mas não é o principal em nossas vidas. Ele pode estar no bolso, mas nunca no coração. O antídoto contra a avareza é a generosidade. Contribua com a obra de Deus e com os necessitados. Não podemos fazer uma coisa e esquecer a outra.
NÃO COLOQUE O CRISTIANISMO A SERVIÇO DO MATERIALISMO.
Não podemos usar a bíblia, o ministério e a vida cristã como fonte de lucro material (ITm.6.5). O obreiro é digno do seu salário, mas o evangelho não tem o propósito de enriquecer ninguém. Ser pobre não é pecado.
Não podemos vender a bênção de Deus, como Balaão (Jd.11) (embora ele quisesse vender maldição). Por esta causa, seu ministério profético acabou.
Também não podemos comprar a bênção, como queria Elimas, o mágico. A esse respeito, disse-lhe Pedro: “Seja teu dinheiro contigo para a perdição, pois cuidaste adquirir com dinheiro o dom de Deus” (At.8.20). Ofertas não compram a bênção. Tentar fazê-lo é profanação e ofensa. Deus não faz comércio com seus filhos. Devemos ofertar para agradar a Deus, deixando que ele nos abençoe como quiser e quando quiser. A contribuição motivada por interesse é demonstração de egoísmo disfarçado de espiritualidade.
Não podemos abrir mão de valores espirituais em troca de dinheiro, como fez Judas Iscariotes que, por 30 moedas de prata, vendeu o Senhor Jesus.
O servo de Deus precisa estar disposto a perder tudo por Jesus, se for preciso, inclusive a própria vida.
Os apóstolos foram homens prósperos, pois o seu trabalho foi bem sucedido. O evangelho que anunciaram alcançou os confins da terra, chegando até nós. Eles não possuíam grandes quantias em dinheiro. Não tinham ouro nem prata, conforme disse Pedro ao aleijado, mas eram revestidos do poder de Deus (At.3.6). A verdadeira prosperidade foi a marca de suas vidas.
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